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Parceria do CEPID B3 com IFSP promove interdisciplinaridade em discussões sobre microbiologia

IFSP Ligação Ciência

Na última quarta-feira (16), o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP) sediou o primeiro encontro do ciclo de palestras LigAção Ciência – proposta que busca promover discussões interdisciplinares sobre microbiologia. A iniciativa é uma parceria entre  Flávio Krzyzanowski Júnior, do IFSP, Rita Café Ferreira e Beny Spira, pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB/USP) e responsáveis pelas áreas de Difusão e Educação do Centro de Pesquisa em Biologia de Bactérias e Bacteriófagos (CEPID B3). A palestra inaugural foi apresentada por Robson Francisco de Souza e por Eduardo Pereira Soares, também filiados ao ICB/USP e ao CEPID B3, e abordou o papel da bioinformática no estudo da diversidade microbiana.

Um dos destaques do encontro foram as explicações de Souza sobre a diversidade bacteriana e a exploração de seu potencial em diferentes áreas. O pesquisador citou exemplos curiosos, como bactérias que habitam ambientes extremos, que se organizam em grupos e agem como um só grande organismo e outras que realizam um tipo especial de fotossíntese sem liberar oxigênio. “Essa diversidade é o que nos permite explorar novas possibilidades de uso desses microrganismos”, afirmou. Entre as aplicações mencionadas, está a descoberta de bactérias capazes de degradar o plástico de garrafas PET – um avanço promissor para o enfrentamento da poluição plástica no planeta.

Embora milhares de espécies sejam conhecidas, Souza mencionou que as técnicas modernas são capazes de cultivar apenas cerca de 1% desses organismos em laboratório. Para contornar essa limitação, entram em cena a genômica – estudo do conjunto de gentes de um organismo – e a bioinformática, que utiliza ferramentas computacionais e matemáticas para analisar dados biológicos em larga escala. “Para se ter uma ideia dos avanços, os primeiros projetos de sequenciamento de DNA levaram cerca de dois anos para mapear o genoma de uma única bactéria. Hoje, conseguimos fazer isso em apenas 4 horas”, afirmou o pesquisador, enfatizando o papel essencial das novas tecnologias nesse resultado.

Membros do IFSP e do CEPID B3 presentes no evento. Souza é o terceiro da esquerda para a direita.

 

“As células, inclusive as bacterianas, leem as informações do genoma e produzem as proteínas essenciais para sua sobrevivência com base nessas instruções”, explicou Souza. De acordo com ele, alguns softwares de bioinformática seguem uma lógica semelhante, permitindo, entre outras aplicações, identificar genes relevantes, organizar os dados obtidos, comparar genomas de diferentes organismos e investigar, por meio dos genes encontrados, quais microrganismos estão presentes em uma determinada amostra. “Com essas ferramentas, conseguimos até simular digitalmente o funcionamento de um organismo – o que nos ajuda a entender o que ele precisa para ser, de fato, cultivado em laboratório”, acrescentou.

Na sequência, Eduardo Soares, doutorando na área de bioinformática no Laboratório de Estrutura e Evolução de Proteínas, que é coordenado por Souza, apresentou como a bioinformática está presente em sua pesquisa. “Buscamos identificar, no genoma de determinadas bactérias, as instruções responsáveis pela produção de compostos com ação antibacteriana”, explicou. Para isso, o pesquisador utiliza ferramentas computacionais, como bancos de dados, programas específicos e recursos de inteligência artificial para comparar milhares de genes e localizar regiões com potencial biotecnológico. O trabalho de Soares pode ser essencial para o desenvolvimento de novos antibióticos, antifúngicos e antitumorais, por exemplo, e ilustra como a exploração da biodiversidade bacteriana pode levar a resultados com implicações transformadoras.

LigAção Ciência

O ciclo de palestras LigAção Ciência é uma iniciativa do Centro de Pesquisa em Biologia de Bactérias e Bacteriófagos (CEPID B3), em parceria com o IFSP, que tem como objetivo fomentar discussões interdisciplinares na área da microbiologia. Os encontros estão programados para acontecer mensalmente, alternando entre o Instituto de Ciências Biomédicas da USP (ICB/USP) e o Instituto Federal de São Paulo (IFSP). As apresentações serão conduzidas por alunos e docentes vinculados às instituições participantes. A próxima edição está prevista para o dia 09 de maio, a partir das 9h30, e deve acontecer no ICB II da USP, com entrada gratuita e aberta ao público.

O CEPID B3

O Centro de Pesquisa em Biologia de Bactérias e Bacteriófagos (CEPID B3) é um centro de excelência financiado pela FAPESP que realiza pesquisas básicas na área de Microbiologia, com foco em bactérias e vírus que infectam bactérias (bacteriófagos).